quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Mais um Velho

Mais um da série textos do LEIA-Me


MOCOTÓ
Um dia desses eu fui num almoço na casa de minha Vó e notei um interessante fenômeno. Haviam duas opções de comida: 1) Um suculento arroz com galinha. 2) Mocotó. Isso mesmo, mocotó. Sem mais nem menos. Tão simples que nem um adjetivo ele leva... Quando todo mundo foi se servir que eu notei, havia uma clara distinção entre quem comia o que. Enquanto os jovens se esganavam pelo arroz com galinha, os mais velhos se deliciavam com o mocotó (eu escrevo dessa forma itálica que é pra vocês entenderem a gravidade da coisa. Esse mocotó é quase uma entidade por isso merece o respeito devido). Eu fiquei só cuidando e enquanto nem todos os velhos comiam mocotó, todos os que comiam mocotó eram velhos. Eu achei aquilo estranho, mas nada de extraordinário. Até que meu tio falou: "Bah, e pensar que quando eu era guri não gostava dessa maravilha", claro que por guri ele quer dizer quando ele tinha uns 25 anos. Então de repente, não mais que de repente, tudo fez sentido. Assim como a calvície, o gosto por usar a camisa pra dentro calça e uma predileção por ouvir a Guaíba FM, gostar de mocotó é mais um passo do homem na direção única da vida, em busca do amadurecimento máximo que é a senilidade. Ou seja, é coisa de velho.

A partir dessa dedução eu comecei a divagar, será que isso vai acontecer comigo? E de repente me imaginei com 50 anos, completamente diferente: careca, de óculos, gordo, com a memória ruim, sempre esquecendo o nome dos outros (ahn... tá bom, talvez eu não fique muito diferente). Devorando que nem um animal um belo prato de mocotó, enquanto ouço os clássicos da Guaíba e coço a careca. AAAAHHHHHHH!!!!!!!!!! De uma hora pra outra eu virei meu pai, só que sem a infra! Quando voltei a mim pensei, será? Então olhei para meu primo Felipe, que tem 29 anos, e me assustei ao vê-lo proferir a seguinte frase: "Olha eu não sou chegado a mocotó, mas esse aí tá com uma cara boa!!!!" Convenhamos, nem que tu seja o maior fã de mocotó do mundo e tu esteja comendo o melhor mocotó do mundo, tu nunca vai poder afirmar que esse mocotó tá com uma cara boa, porque mocotó pra ser mocotó tem que ser nojento. Tem que ter a aparência de algo que já foi comido pelo menos umas três vezes, e conseqüentemente descomido outras três.

Chego então a triste conclusão de a passagem do tempo é inevitável, mas não imperceptível. Por isso eu digo quando você sentir aquela vontade comer mocotó, pode ir sintonizando o rádio, e preparando as pantufas porque, a Morte está a caminho. Trazendo uma foice numa mão e um pote com uma meleca cor de vômito na outra. E cuidado, quem sabe qual ela vai usar primeiro.

Textos Velhos

Como eu ando muito ocupado para criar algo original, resolvi desenterrar textos velhos que foram publicados no lendário LEIA-ME.COM, como muitos não conheceram essa época aí esta um deles que tem tudo a ver com o momento. Se lembrem que este texto de ve ter uns 8 anos.

A BAIANIZAÇÃO DO SER

Férias!!! Oba!!! Iupi!!! Puxa!!! Repuxa!!! Essas são as primeiras coisas que vem a cabeça ao pensarmos na dobradinha verão & praia, tudo é alegria e felicidade. Durante dois meses somos livres para fazermos o que quisermos da nossas vidas( isto é para aqueles que como eu, e a maioria dos independentes membros do LEIA-ME, são felizes e ficam na praia sem os pais). Para estes a praia é um paraíso onde o néctar dos deuses é composto por miojo e Coca-Cola e o pecado mortal é comer e não lavar a louça. É nessa época que acontece um interessante fenômeno: a bainização do ser.

Esse fenômeno começa no primeiro dia de férias, o cidadão passa o ano inteiro ralando, seja estudando ou trabalhando, e de repente uma metamorfose começa. O sapato ou o tênis é imediatamente é substituído por Havaianas, calças são trocadas por bermudas, e o cara se larga pra praia seguindo um instinto mais forte que a razão. Instinto esse que o manda ir para Porto Seguro, mas como o cara já virou baiano, ele fica com preguiça e acaba parando em Capão mesmo.
Ao chegar na praia o cara já é um legitimo baiano. O homem que antes era um produtivo membro da sociedade agora só quer saber de praia e festa, e quando não esta em um ou outro em dormir. O cara só não fala óxente porque lhe resta um pouco de macho, digo de gaúcho, na alma que o proíbe de falar cantando.
Certas caracteristicas baianas porém se manifestam no indivíduo, como a alimentação exótica. Alguém aí come em POA o que come na praia? Não. Não dá, a comida da praia é exclusiva e exótica demais para se comer em casa. Única diferença entre a culinária baiana e a praiana, é que eles capricham no tempero, já a gente na maioria das vezes come comida sem gosto. Normalmente a salvação da lavoura é o restinho de gaúcho que manda o cara fazer um churrasco no findi.

Dizem que há casos extremos nos quais o homem deixa de ser gaúcho de fato. Os sintomas são claros, troca-se o chimarrão por água de coco, o CD do Tchê Guri pelo do P.O. BOX, começa achar que o Bebeto joga bola e sente uma estranha vontade de votar no PFL. Nesse estágio a única saída é uma daquelas excursões para Porto Seguro( Excursões essas, criadas por inescrupulosas agencias de turismo que se aproveitam dos doentes ) Depois de viajar 60 horas ouvindo pagode chegar lá e ouvir pagode e axé 24 horas por dia ou o cara volta ao seu juízo normal ou vira baiano de vez. Por isso eu aviso, cuidado com a banalização, digo baianização do ser, você pode ser a próxima vítima.

PS. Eu ouso imaginar uma sociedade utópica onde teremos a gauchização do baiano.