terça-feira, 3 de julho de 2007

No longinqüo ano 2000

Seguindo a série Textos Velhos( também conhecida como gordo preguiçoso), aqui vai um texto que eu escrevi pro LEIA-ME logo depois de voltar dos EUA. Lembrem-se de que os tempos eram outros, ainda haviam algumas pessoas que não odiavam os EUA. E eu era alguém muito mais jovem, inocente e idealista. Ou não. Não sei mais. Bom mais jovem com certeza. Quanto ao resto julguem vocês.




Para aqueles que não sabem volto a escrever no LEIA-ME após uma longa pausa, porque passei 8 meses nos USA. Hoje venho através deste texto compartilhar um pouco da minha experiência na terra do Tio Sam.
Fui para os EUA no começo de Novembro de 2000. Chegando eu logo arranjei emprego em uma pizzaria de motorista ou como eles chamavam Delivery Boy (que numa tradução meio livre significa: ”aquele que entrega pizza atrasada e fria”). A cidade na qual morei se chama Fort Worth e fica do lado de Dallas (isso mesmo a terra de J.R.) no Texas (só um pouquinho, acabei de me ligar o quão pré-histórico esse meu comentário deve ter soado para alguns de vocês, J.R. era o vilão da serie Dallas que dava na Globo nos primórdios dos ano 80), essa terra também é conhecida por ter sido lá que mataram o Kennedy (esse todo mundo sabe quem é né?). Mas não pensem meus amigos que o Texas se resume a um monte de cowboy fugido de propaganda de Marlboro, que namora uma loira feia mais peituda chamada Mary Sue Ellen e que na verdade é sua prima. Não, não meus amigos o Texas é muito mais do que apenas isso. Não podemos esquecer dos velhos reacionários e racistas, dos mexicanos, e os motoqueiros bêbados e tatuados. E eu entreguei Pizza a todos esses estereótipos ambulantes, sendo sempre uma experiência única e curiosa.
Com certeza a que mais me marcou foi quando eu fui entregar uma Pizza pra um sujeito que era um clone do Eufrasino (aquele bigodudo que caçava o Pernalonga), com um dos mais perfeitos “mullit” que eu já vi, e olha que eu estava num lugar onde o “mullit” é uma prática aceita e em alguns extremos até bem vista. O sujeito me abre a porta usando um boné da NRA (a associação de extrema direita americana “National Rifle Association” que novamente numa tradução meio livre significa “caras que não querem você aqui seu estrangeiro nojento”) e tem uma bandeira gigante dos confederados na parede. Esse cara, vamos chamá-lo de Billy Bob (esse obviamente não é seu verdadeiro nome, afinal quero manter minha integridade física por menos íntegro que eu seja) começa a fazer um discurso sobre como os estrangeiros estão destruindo o que há de bom na América e roubando os empregos de bons e puros americanos como ele e eu, isso mesmo ele e EU, eu um cara que tem Silva e Santos no sobrenome um americano!!! Mas também o cara tá acostumado a ver só os mexicanos entregando Pizza e fazendo outros trabalhos chinelos, de repente vê um cara gordo, branco que nem leite usando uns oclinhos, falando um inglês relativamente bom (a maioria dos Entregadores não falam inglês algum), pronto, só faltou me abraçar e me chamar de brother. Depois eu fiquei sabendo que ele estava revoltado com o atendimento que ele recebera da outra brasileira que trabalhava na pizzaria que falava um inglês muito ruim, a Danielba (esse incrivelmente é o seu nome verdadeiro!!!!).
Contrariando o que andou circulando por aí, eu entregava as pizzas inteiras sim senhor!! Nunca entreguei uma pizza que faltasse alguma coisa, às vezes entreguei pizzas com coisas a mais que os clientes não tinham pedido e provavelmente não queriam em hipótese alguma. Mas isso foi só pra eles entenderem que DEVE SE DAR GORJETA AO ENTREGADOR!! Tudo bem aqui no Brasil a maioria dos lugares cobra uma taxa de entrega justamente porque não se dá gorjeta, mas prestem atenção no que eu digo, SEMPRE TRATEM BEM QUEM VAI MEXER NA SUA COMIDA! Parece uma coisa óbvia, mas muito pouca gente o faz. O pior é que eu conheço um monte de gente que quando vai comprar digamos um tênis trata o vendedor tri bem, mas quando vai numa churrascaria trata o garçom que nem merda. Pra mim nessas situações você tem que levar em conta apenas uma simples pergunta: aonde você prefere encontrar um pentelho??? Bom acho que eu sei a resposta. Por isso que eu trate os vendedores que nem merda. O que que eles vão fazer virar pra você e dizer: “ah é então ponha os cadarços você mesmo!!”
Bem antes que eu comece a receber cartas ameaçadoras do sindicato dos vendedores (eu posso até imaginar, “aqui esta seu livro mas SEM O MARCADOR ,hahahaha” ou então “110? 220? Você vai ter que descobrir sozinho, BUAHAHAHA”) vou mudar de assunto. Logo que cheguei lá pensei em ser correspondente internacional do LEIA-ME, mas aí eu comecei a pensar nas conseqüências. Eu provavelmente teria que me mudar pra Nova York, e ter varias discussões exacerbadas com o Arnaldo Jabor, e outros tipinhos “intelectuais-amo o Brazil, mas não moro lá-odeio os americanos, mas vivo aqui-tudo é uma merda, mas não tem problema porque o meu terno é super bacana” que todos nós conhecemos de jornais e da televisão. E o pior, eu teria que usar sempre terno e ter que deixar um rabinho de cavalo.
No mais, eu só gostaria de dizer que é bom estar de volta. E se um dia desses meus textos pararem de aparecer provavelmente é porque eu estou fritando hamburgers na Inglaterra ou fazendo macarrão na Itália. Ou seja, vou estar em algum lugar do 1º mundo mexendo na comida dos outros, BUAHAHAHA!!!!!

Um comentário:

Ramon Crivellaro disse...

Pior que nunca tinha pensado nisso... Tratar bem as pessoas que mexem nas nossas comidas!! Bela dica!!